Se esta rua, se esta rua fosse minha... | Labedu
Casos e Referências

Se esta rua, se esta rua fosse minha…

Graffiti do artista Ernest Zacharevic.
24 de outubro de 2014

Já parou para pensar no que as crianças pensam, sentem e podem mudar na cidade em que vivem?

O trecho acima foi escrito por Lúcia, 7 anos, na escola. Ela respondia a uma proposta de que pensassem em um lugar triste e cinzento para ser transformado a partir de uma história. Assim, escolheu escrever sobre uma rua por onde passou na cidade. Pelo texto percebemos que gostaria que este local tivesse mais cores, mais alegria e mais interação entre as pessoas. Inclusive aparece a busca por soluções ecológicas, quando ela escolhe tintas não poluentes para dar vida às paredes.

Essa demonstração do desejo de Lúcia acerca de sua cidade nos faz pensar a respeito da relação das crianças com o espaço urbano. Por vezes imaginamos que o entorno não as afeta, quando, na verdade, não só o estão percebendo como têm opiniões e vontades de transformação sobre o ambiente que habitam. Esta menina vive em São Paulo, uma cidade grande, desigual, cinzenta, poluída, séria e apressada. De modo muito sensível conseguiu expressar através da escrita seus pensamentos em relação ao lugar onde vive. Captou muitos de seus aspectos problemáticos, mas valorizou também manifestações de criatividade presentes neste ambiente, como o graffiti, por exemplo.

Alguns projetos pretendem atentar para o olhar da criança sobre o espaço urbano, aproveitando sua vivência e seus pensamentos para transformar a cidade e também para ensinar sobre a importância do espaço público, que deve ser um lugar de trocas sociais, direitos e deveres. A CriaCidade, fundada pela cientista social Nayana Brettas, realiza diversas intervenções com este fim. Um dos projetos é o Criança Fala, no qual escuta-se as ideias, sentimentos e sonhos das crianças – apreendidos de forma lúdica – para elaborar políticas públicas, projetos arquitetônicos, gestão de espaços e de equipamentos e projetos políticos pedagógicos.

Há também a experiência do Projeto Prisma de educação infantil na Colômbia, relatado pelo atelierista Juan Carlos Melo Hernández no congresso Diálogos entre Cidade e Escola – 2014 (RedSolare – Brasil). Na tentativa de aprofundar a visão poética das crianças a respeito dos espaços por onde circulam, foram realizadas saídas fotográficas nas quais elas tinham liberdade para captar as imagens que as interessassem. Este exercício gerou intervenções imediatas das crianças sobre o espaço público, à medida que rompiam a barreira do privado ao tirar fotos de pessoas conversando, casais e trabalhadores que estavam no entorno da escola. Este contato com o ambiente em que estavam envolveu inclusive atenção às plantas que encontravam, uma vez que a natureza também foi considerada parte da esfera pública ao longo do trabalho desenvolvido. O projeto ainda abrangeu mais aspectos importantes, como a participação direta de pessoas da comunidade na escola.

E você? Já ficou atento às crianças para escutar e perceber o que elas pensam sobre os locais por onde passam? Sabe o que elas sugerem para melhorar a casa, a rua, o bairro ou a cidade? Conte para nós!

 

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